sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Olhar mais que ver!


Viro a cara, como todos os restantes milhões de hipócritas que partilham comigo esta cidade. Mas sinto.
Há cada vez mais gritos de desespero a tropeçarem no nosso caminho.
Este mês são pelo menos três os choques brutais com que não soube lidar:

1. Uma mulher com aparência de 40 anos, vestida normalmente, limpa, saudável, pedia uma pequena moeda para comer, a cada um dos desgraçados que durante duas horas esperavam para colher sangue para analises. Cada um a lutar com a sua própria desgraça, negou ajuda e feriu a dignidade desta mulher, que passava um a um, todos os pacientes.
NOTA: O seu olhar era cinzento, triste, morto.

2. Uma idosa de 86 anos, que o afirmou com orgulho, perguntava na farmácia quando custavam os antibióticos que lhe salvaria a perna que arrastou até a Farmácia. 40 centavos mais 6€ da pomada. Impossível. Fica para outra altura…
NOTA: O seu olhar era cinzento, triste, morto, desiludido.

3. Uma mulher com pouco mais que trinta, pedia ajuda no cimo das escadas rolantes do Campo Pequeno. Chorava de raiva e injustiça. Tinha Fome. Ficou ali, sozinha, rodeada de milhões de hipócritas, como eu.
NOTA: O seu olhar era cinzento, triste, morto, desiludido, choroso.

Como na poesia e no amor, o olhar é o canal de ligação ao interior das pessoas. Na merda também é assim. Estas mulheres de 30, 40 e 86 anos, mostravam a alma logo a seguir á menina do olho.

Que mundo é este?

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