quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nem o verde da minha vista traz esperança pelo céu que o abriga....

Afinal vim. Mas seria melhor estar a sentir o falso sentimento do remorso de não ter vindo!
Sinto-me entalado entre duas pressões de vento, contrário ao de ontem que empurrava. Hoje esmago-me.
Sinto-me um puto de 3 anos, sozinho numa montra, onde todos os outros putos são mais giros e de custo mais baixo. Vou apodrecer na montra, se não houver um louco que me resgate nos saldos.
Já nem sei dar um bom sentido a lágrimas que conservo para momentos únicos.
Tenho pulado de felicidade em alguns, poucos, momentos onde penso que venço batalhas sem entrar em guerras, onde sou agraciado pelas adolescentes da tribo no regresso da frente de luta, com mimos e sorrisos, beijos e caricias.
O MAnuel Cintra abriu a torneira dos sentimentos com as suas palavras ditas de sentimentos que escreveu e quis partilhar em voz grave e sensível.
Hoje sinto-me como o seu escaravelho (que a seguir transcrevo).
Hoje fui de novo palhaço no consentido enrolar das coisas que penso e desenho e ninguém sabe descodificar. E tive a apoteose no palco do almoço.
Hoje não soube apreciar divinamente a loucura bela do amor dos outros através dos sorrisos dos seus olhos e da cumplicidade das suas palavras. Prometi a mim mesmo que olharia para estas cenas como partes de um todo, em que era apenas espectador e não realizador, e ousei tomar o controlo das câmaras e gritar acção, quando tudo estava parado no saborear do encanto e da paixão redimida.
Fogo! Haja ventos como o de ontem que me empurrem e abismos profundos que me aceitem quando o que penso é negro e escaravelhado!

Cá fica Manuel Cintra falando de desamores!

"Acho que vou pôr um piercing no umbigo. Dói-me a pila. Estou farto de me vir para o chão. Estou farto do vibrador, e das luzes, e do escuro. Andam a cair-me escamas. Estou farto de ser iguana, ou dinossauro, ou axolotl. Que saudades dos tempos de borboleta. E dos tempos de pássaro. Mas o tempo pissa.

Acho que vou por um piercing no umbigo. Não compreendo bem que idade tenho, mas sei que estou velho e caquéctico, e que sou jovem outra vez. As marés amarrotam-me as azas, quando fui gato comi o rato, quando fui mulher esqueci-me de ser fufa, agora sou homem e queria tanto engravidar e ser mãe solteira de uma vez por todas.

Sou o escaravelho de lisboa. O merdas de telheiras. o menino-familia deste jardim de excrementos. Enrijeceu-me a casca. Fui durante uma noite inteira golfinho no tejo, depois soldado em sintra, mouro em alfama, cozinheiro em algés, agora sou um simples escaravelho. Tenho asas, mas prefiro não usar. Tenho comida no frigorífico, mas prefiro comer merda. Comer merda, é quando todos nos enxotam. E temse fome e sede. E é preciso recomeçar. Deus é uma panela depressinha. Eu não sou o demónio, nem o anjo, mas tenho ambições.

Tenho o chão salpicado de tinta, e o meu chão passou a ser o meu tecto. A mulher que eu amo, vou matá-la hoje. Não me consegue viver. E estou bem acompanhado. Construí uma bola de merda, vou transportá-la agora até ao fim do mundo. Quando estiver em cima da pirâmide de giseh, compreenderei afinal que a merda era oiro, e que convém não ser ganancioso. E tu, vais perder por me perder a mim. Mas não faz mal. Há-de haver por aí quem queira comer um escaravelho coberto de merda, só para o lavar. Tenho coisas lindas por baixo, sabes. Sou um mistério potencial. E se bem que ninguém me compreenda, abracei dicionários, fiz traduções, traduzi do escuro para o claro, e em dias de sorte vice-versa.

As minhas patas têm espigões afiados, que quando entram numa vagina são como as pixas dos cães, triangulares e um pouco ásperas. Por isso quando se trata de copular, prefiro o membro às patas. Ao menos esse é macio, e não gosto de magoar ninguém, é só uma tara. Todos temos taras. Eu tenho a tara de não ter taras, não sei se consigo. Afinal de contas, já vou a caminhar para os oitenta e um. Mas ainda tenho tesão.

Acho que vou pôr um piercing no umbigo. Um piercing de merda. Em honra das minhas asas castanhas. Da tatuagem que não fiz, e era uma cobra. Do anel do gato, mas não do rui. Do velho que mo vendeu em potobello road. Do chapéu que deixei em casa de uma ex, e que era o mais belo. Do licor que nunca vendi. Da música que compuz, e ninguém sabe. Da canção que vou cantar lá para o outro Outono. Da minha língua bífida. Da mulher que estou a enterrar no coração, e nunca mais morre. Da casa de novo vazia.

Acho que vou pôr um piercing no ouvido. Deus é mais mãe do que pai."

Manuel Cintra, abril de 2006.

2 comentários:

Sissa disse...

Não sei se compreendi muito bem o seu texto. Mas, como já falámos, o mundo não é perfeito, as pessoas não são perfeitas, e as coisas nunca correm todas exatamente como nós queremos. Existem sempre revezes, existem sempre constrangimentos. É preciso ter jogo de cintura para encaixar pequenas derrotas. Algumas guerras são impossíveis de evitar. E há sempre um vencedor e um vencido. Mas, com as derrotas, aprende-se a ganhar. Obrigados a seguir outros caminhos, por vezes encontramos novas soluções. Hoje não tome como seu o direito de se pintar de negro. E reaja.

Quanto ao Manuel Cintra, um tanto cru mas de sentimentos profundos e complexos. É sempre assim o amor.

Beijo

Psantos disse...

Com a gordura que tenho á volta da cinta, os jogos são já uma impossibilidade!
Mas tks