terça-feira, 23 de junho de 2009




Le voilá.
Estou já registado no centro de emprego da minha residência, obrigado a mostrar sinais de vida de 15 em 15 dias e a procurar emprego activamente.

Já me tinha acontecido. Mas quanto mais tarde acontece mais duro é de aceitar.

Sempre fui um artesão da comunicação. Fiz estratégias e planos, usei media, criei media, inventei suportes, inovei formas, dinamizei conteúdos.
Ganhei prémios. Corre Cannes mais um ano com leões para outros artesãos da comunicação, e eu olho para o meu leão, pobre e solitário como eu, já bolorento guardado no tempo.

Trabalhei “contas” de luxo. Lever, Fima, Pingo doce, BCP, Vodafone, Rover, Kia Nutrinveste, compal, nacional e fula, Unibanco e Jazztel, Allianz e savora, diese e wcpato, Benfica. Deitei as mãos as marcas Bacalhau da Noruega e Salmão da Noruega, inventei para a National Geographic Magazine e para a Europcar.


Negociei com as televisões, as rádios a imprensa e o exterior.
Fiz o meu próprio meio, que vi definhar em parcerias mal intencionadas.
Tive ajudas e criei amizades.

Foram quinze anos de carreira. Foram bons quinze anos.
Fiz parte de grandes equipas, a Initiative, a melhor escola de sempre, a Bates, o desafio da vida, a Bus TV. Lisboa a três tempos depois de no porto ter trabalhado no grupo Amorim, de ter dinamizado o lançamento da Projecto Global, de ter criado a minha discretíssima agência, a Bolsa Optimizada de meios.
Depois de em Coimbra ter criado uma das primeiras agências de publicidade de sempre.
Depois de ter feito rádio em Coimbra, em Viseu em Mangualde e no Luxemburgo.
Fui Sonoplasta, técnico de som, fui locutor em feiras e certames. Produzi discos e contribui para alguns filmes documentários.

E de repente, apago todo este passado e volto á estaca zero.
No preciso momento em que os meus melhores amigos deixam as suas carreiras para trás e abraçam novos desafios. No momento em que os meios perdem a cabeça, dando prioridade ao dinheiro e não á comunicação, em que as agências se mercantilizaram e deixaram de servir. No momento é que se tornou mais importante fazer que pensar. Em que se paga a quem não pode pensar porque os outros custam mesmo dinheiro.

E não trago um único resticio de arrependimento ou mágoa.
Fico feliz sempre que me recordo de um trabalho, de uma missão.

No que foi o mais importante trabalho da minha carreira, a criação do Logótipo Humano que deu apoio á candidatura de Portugal ao Euro 2004, encontrei parceiros e audazes colaboradores que me mostraram que a nossa tarefa fundamental é servir e ficar feliz por se conseguir.
Foi aí que conheci José Sócrates, hoje primeiro-ministro, então ministro-adjunto de Guterres, e o primeiro a arregaçar as mangas para trabalhar na noite longa da montagem do evento.

Gostei desse exemplo de trabalho. E vou usá-lo para descer á rua, de mangas arregaçadas, também, a procura de um novo começo.
Porque trabalhar é mais do que um recurso, é viver intensamente uma missão, dar o melhor que se pode e tentar poder cada vez mais.

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