domingo, 17 de maio de 2009

Testamento!


Ponho-me a olhar para as minhas coisinhas.
A quem deixá-los?
Uns vieram do banco da escola, ou da rua do lado. Criaram brincadeiras repetidas, usaram o meu ombro como recipiente das suas lágrimas e guardaram na sua pela o ácido das minhas. Saltaram os mesmo muros que eu e fizemos as mesmas descobertas, embora com sensações diferentes. Uns já abriram caminho e andam agora entretidos a sulcar caminhos que facilitem a nossa chegada. Outros, mais distantes, aguardam as noticias do tempo para que nos reencontremos algures entre o purgatório e o céu que sempre desenhamos nos sonhos de infância.
Outros cruzaram a nossa vida. Coimbra, Luxemburgo, Viseu, Guarda, Penalva do Castelo, Mangualde, Porto, Gaia e Gondomar, Lisboa, Ponta Delgada, Capelas, Vila Franca do Campo, Povoação, Mosteiros, S.Vicente de Ferreira. Em cada momento encontrei sempre, pelo menos um, ávido de partilhar de receber de entregar.
Nas rádios, nas agências, nos meios. Há sempre um!
Muitos foram motivos de paixão, de encanto e do doce sonhar. Outros, pragmáticos, obrigaram-nos a arrepiar caminho. Outros levaram-nos a loucura. Outros...perdemos nos nós do dia a dia.
Muitos há que vimos crescer e outros que não veremos.
Muitos nos deram mimos e ternura, nos encantaram e seduziram. Muitos nos gritaram.
De todos sinto um vazio. Todos me enchem. Todos me faltam. Todos estão sempre presentes.
E neles incluo o meu pai, o meu irmão a minha mulher e os meus filhos o meu sogro e a minha sogra e alguns dos meus cunhados e cunhadas, que no meu coração não cabem todos por nada!
As minhas sobrinhas tornaram-se irmãs e filhas. Contam com aditivos.
Tive mães e pais para além da biologia, muito mais pela química.
Houve mulheres que quis ter nos braços pelo infinito prazer que achava que teria em dar a intimidade a quem tinha dado já tudo o resto. Tive homens a quem daria a alma por pensar que a tornariam melhor.
E tenho saudades de todos aqueles que conheci num olhar ou num relance da vida, e que o tempo não deixou que conhecesse.
E agora (um tempo que foge entre os dedos), agora que precisava de mais tempo para me fundir com outros tantos, para cravar as suas mãos nas minhas, para me enroscar á volta dos seus corações, para usar o brilho dos seus olhos como lanterna...agora pergunto-me?

A quem vou deixar os meus amigos?

3 comentários:

xitilina disse...

Os teus amigos não vais deixa-los a ninguém porque ninguém lhes pode dar nem gostar deles como tu.
Os teus amigos continuarão a ser os teus amigos mesmo quando já não estiverem, alguns deles, ou tu neste lugar mas sim noutro. Acaso esqueceste os que já vivem outras vidas (sabe-se lá onde?!).
Parece que não, pelo que leio...
Mas não te iludas, não podes deixar os teus amigos a ninguém porque ninguém sabe ser tu.

Psantos disse...

e os que descobrimos juntos? os que trouxeste? Como vês, mulher, somos ricos!

@na disse...

:)))) [a Xitilina tem razão... ninguém sabe ser tu!]